Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos
ANO VII JANEIRO DE 1864 No 1
A passagem seguinte, tirada de Santo Atanásio, patriarca de Alexandria, um dos pais da Igreja grega, parece ter sido escrita sob a inspiração das idéias espíritas de hoje:
“A alma não morre, mas o corpo morre quando dele ela se afasta. A alma é para si mesma seu próprio motor; o movimento da alma é a sua vida. Mesmo quando está prisioneira no corpo e como que a ele ligada, ela não se amesquinha às suas estreitas proporções e aí não se encerra. Mas muitas vezes, quando o corpo jaz imóvel e como que inanimado, ela fica desperta por sua própria virtude; e, saindo da matéria, não obstante a ela ainda ligada, concebe, contempla existências além do globo terrestre; vê os santos desprendidos do envoltório dos corpos, vê os anjos e a eles ascende na liberdade de sua pura inocência.
Inteiramente separada do corpo e quando aprouver a Deus tirar-lhe a cadeia que lhe é imposta, não terá ela, eu vos pergunto, uma visão muito mais clara de sua natureza imortal? Se hoje mesmo, e nos entraves da carne, ela já vive uma vida completamente exteriorr, viverá muito mais depois da morte do corpo, graças a Deus que, por seu Verbo, a fez assim. Ela compreende, abarca em si as idéias de eternidade, de infinito, pois é imortal.
Assim como o corpo, que é mortal, não percebe senão o que é material e perecível, também a alma, que vê e medita as coisas imortais, é necessariamente imortal em si mesma e viverá sempre, porque os pensamentos e as imagens de imortalidade jamais a deixam e nela são como um foco vivo, que alimenta e assegura a sua imortalidade.”
(Sanct. Athan. Oper., t. I, p. 32. – Villemain, Quadro da eloqüência cristã no IV século)
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