Deus e Universo – Pietro Ubaldi
Se o universo diz em Deus o seu: "eu sou", como o diz toda criatura e, por conseguinte, todo homem, será possível então encontrarmos, no termo máximo, o principio de egoísmo que existe nos seres inferiores, e que é tão condenável no homem? E isto é possível? Mas, por que então o egoísmo humano é uma culpa? E por que ele existe e que significa e quer? E, no princípio centralizador unitário do universo em Deus encontraremos então o egoísmo máximo?
É um fato que, sem egocentrismo, desde os sistemas planetários aos organismos celulares e sociais, não se mantém compacta nenhuma unidade. Ele é, pois, necessário a todo ser. Egocentrismo não é exatamente egoísmo. Este possui mais um sentido de centralização com vantagem individual, com pendor separatista e exclusivista, um sentido de usurpação em detrimento de outros ou necessitados ou com direito. O egocentrismo possui ao invés, apenas um sentido de centralização destituído de senso separatista e exclusivista, sem o objetivo de usurpar nada a outrem pelo contrário, com vantagem de conservação de um organismo global que é necessário e útil a todos os elementos componentes. O Estado, como um chefe de família, pode ser utilmente egocêntrico sem ser egoísta Se todo ser, para existir, deve dizer: "eu" - o egocentrismo é uma necessidade de existência e, por isso, não pode haver culpa em se repetir os princípios do ser, expressos no sistema do universo. É também, segundo a Lei, que cada fragmento conserve interiormente a natureza do esquema consoante o qual o Todo-uno é construído.
Eis como se opera a progressão da abertura da concha do egoísmo no altruísmo, fim da evolução que consiste exatamente na confraternização, a qual, unificando os fragmentos do Uno, reconduz os seres à unidade no centro - Deus. O egoísmo poderia então denominar-se egocentrismo involuído, fechado e limitado em si mesmo, enquanto o altruísmo seria egocentrismo evoluído, aberto e expandido no Todo. Efetivamente, o primeiro é separatista, desagregador centrífugo; o segundo é unitário, centrípeto. O primeiro se afasta de Deus e o segundo se avizinha de Deus.
O egoísmo historicamente se explica. Resultado da fragmentação do Uno em tantos outros “eu” menores, separados e separatistas como veremos, é qualidade do ser involuído, necessário a sua existência, pois que no nível em que se encontra, necessita revestir esta forma de personalidade separada egoisticamente, em guerra com todos na ignorância da superior fase orgânica, que poderá irmaná-lo aos semelhantes em unidades maiores. Esse egocentrismo, biologicamente justificável, só o é, todavia, para o passado mas se tentar prolongar-se no futuro, tornar-se-á cada vez mais condenável como egoísmo separatista, porque a evolução leva a humanidade a um mais vasto egocentrismo coletivo. É assim que o egocentrismo separatista, sendo uma forma biologicamente de uma utilidade de superada, não poderá reaparecer senão sob o aspecto cada vez mais retrógrado e anti-vital. Tendo cada vez menos razão de existir na sua forma exclusivista e agressiva, cada vez menos também será justificado, pois que deixou de ter função biológica.
Em Deus, o egocentrismo representa um egoísmo tão amplo, que abraça todas as criaturas, tudo o que existe, de modo a coincidir com o máximo altruísmo. E quanto mais o ser evolve, tanto mais o egocentrismo tende a se aproximar ao de Deus, que é o egocentrismo que todo ser sente, com respeito aos elementos componentes do próprio organismo, constituindo uma necessidade para mantê-los todos compactos em unidades em torno ao ''eu." central, alma do sistema. O egocentrismo de Deus é, pois, um egocentrismo perfeito, isto é, não constituído de um egoísmo separatista e exclusivista, como o dos seres inferiores, mas sim, feito de Amor, que reforça essa fundamental lei do ser, porque Deus é centro, não para sujeitar, mas para atrair, não para absorver, mas para irradiar, não para tomar, mas para dar.
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