Saturday, January 9, 2010

Capítulo IV - A Queda dos Anjos

Deus e Universo – Pietro Ubaldi



Como ocorreu essa monstruosa revolta de algumas células do grande organismo-universo, que, ao invés de funcionar harmoniosamente nele, contra ele se puseram, rebelando-se? Onde se encontra a primeira raiz dessa anarquia na ordem?
Importante questão que se vincula ao problema da gênese do mal, da sua presença no mundo e da sua solução final.
Deus não criou seres autômatos, mas sim criaturas participes das suas próprias qualidades. Dada a estrutura do Sistema, gera-se uma cadeia de férrea lógica, que conduz dos princípios a essas conseqüências. A criatura deveria, pois, necessariamente encontrar-se ante a encruzilhada da escolha.
Deus, por ser Amor, não pode que¬rer a criatura forçadamente prisioneira do Seu Amor. Ele limita-se a atrai-la. Eis uma nova característica do Sistema, que não pode admitir da parte da criatura, senão uma correspondência de caráter espontâneo, sem a qual não há amor.
Foi por amor que Deus quis a criatura livre, a fim de que ela livremente compreendesse e retribuísse esse amor.
Tiveram, então, início no ser decaído, duas vias opostas, que o distinguem. De um lado, o orgulho, o mal, a dor, as trevas, o caos e, consequentemente a criação e vida na matéria. Do outro a obediência, o bem, a luz, a ordem e a vida perfeita do puro espírito. A queda é a involução, da qual se sobe redimido pelo esforço da evolução, absorvendo o mal em dor, edificando-se pelo sofrimento com a experiência da vida, assim se desmaterializando e espiritualizando na ascensão ao encontro de Deus, que não aban¬donou o ser que caiu, mas apenas lhe disse: "Destruíste o esplêndido edifício. Contudo, continuas a ser meu filho. Reconstruirás, porém, tudo com o teu esforço".


Usamos neste capítulo a expressão "queda dos anjos", porque tradicional e de mais fácil compreensão. Todavia, é bom esclarecer ser ele uma expressão antropomórfica, que reduz o fenômeno às dimensões inferiores da matéria. Ainda que acanhado, o antropomorfismo constitui uma necessidade, porque, embora conte¬nha o defeito de desfigurar o real aspecto do fenômeno, tem o va¬lor de aproximá-lo de nosso mundo tão diferente.

Sunday, January 3, 2010

Santo Atanásio, Espírita sem o saber

Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos
ANO VII JANEIRO DE 1864 No 1



A passagem seguinte, tirada de Santo Atanásio, patriarca de Alexandria, um dos pais da Igreja grega, parece ter sido escrita sob a inspiração das idéias espíritas de hoje:

“A alma não morre, mas o corpo morre quando dele ela se afasta. A alma é para si mesma seu próprio motor; o movimento da alma é a sua vida. Mesmo quando está prisioneira no corpo e como que a ele ligada, ela não se amesquinha às suas estreitas proporções e aí não se encerra. Mas muitas vezes, quando o corpo jaz imóvel e como que inanimado, ela fica desperta por sua própria virtude; e, saindo da matéria, não obstante a ela ainda ligada, concebe, contempla existências além do globo terrestre; vê os santos desprendidos do envoltório dos corpos, vê os anjos e a eles ascende na liberdade de sua pura inocência.
Inteiramente separada do corpo e quando aprouver a Deus tirar-lhe a cadeia que lhe é imposta, não terá ela, eu vos pergunto, uma visão muito mais clara de sua natureza imortal? Se hoje mesmo, e nos entraves da carne, ela já vive uma vida completamente exteriorr, viverá muito mais depois da morte do corpo, graças a Deus que, por seu Verbo, a fez assim. Ela compreende, abarca em si as idéias de eternidade, de infinito, pois é imortal.
Assim como o corpo, que é mortal, não percebe senão o que é material e perecível, também a alma, que vê e medita as coisas imortais, é necessariamente imortal em si mesma e viverá sempre, porque os pensamentos e as imagens de imortalidade jamais a deixam e nela são como um foco vivo, que alimenta e assegura a sua imortalidade.”

(Sanct. Athan. Oper., t. I, p. 32. – Villemain, Quadro da eloqüência cristã no IV século)

Saturday, January 2, 2010

Parte I – Horizonte Tribal e Mediunismo Primitivo

O Espírito e o Tempo – J. Herculano Pires



1. Mediunismo e Espiritismo

Horizontes Culturais: Esquema criado pelo antropólogo John Murphy, para analizar o desenvolviment humano na amplitude de cada uma das suas fases.
A palavra “horizonte” mostra que devemos encarar esse homem dentro dos limites da nossa visão, de todas as condições do meio físico e social em que ele vivia, na paisagem cultural fechada pelos horizontes do mundo primitivo. Podemos assim examinar cada fase em seu meio, cada homem em seu mundo, compreendendo-os melhor.
Definição dos Horizontes:
• Tribal (Primitivo & Anímico)
• Agrícola
• Civilizado
• Profético
• Espiritual

O horizonte tribal caracteriza-se pelo mediunismo primitivo.

A palavra “mediunismo”, criada por Emmanuel é usada para designar a mediunidade em sua expressão natural.
Mediunismo são práticas empíricas da mediunidade.
Dessa maneira, temos as formas sucessivas do mediunismo primitvo, do mediunismo oracular e do mediunismo bíblico, só atingindo a mediunidade positiva no horizonte Espiritual, que surge com o Espiritismo.
Somente com o Espiritismo a mediunidade se define como uma condição natural da espécie humana, recebe a designação precisa de “mediunidade” e passa a ser tratada de maneira racional e científica.

O Espiritismo está presente em todas as fases da história humana.

Distinção entre fatos espíritas e doutrina espírita.

a. Fatos espíritas – assim chamados os fenômenos ou suas manifestações mediúnicas – são de todos os tempos.
As práticas mágicas ou religiosas, baseadas nessas manifestações, constituem o Mediunismo, pois são práticas mediúnicas.

b. Doutrina espírita é uma interpretação racional das manifestações mediúnicas. Doutrina ao mesmo tempo científica, filosófica e religiosa, pois nenhum desses aspectos podem ser esquecidos, quando tratamos de fenômenos que se relacionam com a vida do home na Terra e sua sobrevivência após a morte, sua vida e seu destino espiritual.

Os fatos mediúnicos são fatos espíritas, assim chamados pelo próprio Kardec, mas não são Espiritismo. Porque o Espiritismo se serve dos fatos mediúnicos como de uma matéria-prima, para a elaboração de seus princípios, ou como de uma força natural, que aproveita de maneira racional.

Friday, January 1, 2010

Um Tristonho Adeus



Chamamentos Diários

Emmanuel – Médium Angela Coutinho




Sim, vivemos muito de alegrias, mas também de tristezas, pois nossos momentos mais enfáticos são aqueles que sofremos, são os que se vinculam mais a nós, pois doeram mais, feriram mais, e por isso marcaram mais e se tornam difíceis de ser esquecidos.
Uma dor não se esquece.
Um amor não se esquece.
Um sentimento triste não se esquece.
Um adeus jamais será esquecido.

Em que situações sentimos dizer “adeus”?
Adeus – ao amor que não compreendemos.
Adeus – ao dissabor sofrido diante de uma desunião.
Adeus – a um filho querido e afastado de nosso convívio.
Adeus – às nossas ilusões mortas com o passar dos anos ou com um afastamento.
Adeus – de forma profunda ao lembrarmos o que fomos e não mais seremos.
Adeus – àquele ser querido que ultrapassou o limiar da vida terrene, mas cuja saudade nos chega e nos enlouquece.
Adeus – a nossos amigos, que durante anos nos acalentaram e que se afastaram de nós.

Sempre, sempre o adeus a nos perseguir, sempre diremos e sonharemos com esses momentos.
Não nos esqueçamos de que o adeus não é eterno, não será para sempre, será sempre uma situação temporária, e que precisamos ditar às nossas mentes os momentos inesquecíveis e prazerosos para fazermo-nos fortes e conseguirmos recuperar esses momentos vazios e tremendamente lembrados.
Adeus não existe, é solução temporária para uma vida efêmera e também temporária.

Capítulo III - O Egocentrismo

Deus e Universo – Pietro Ubaldi


Se o universo diz em Deus o seu: "eu sou", como o diz toda criatura e, por conseguinte, todo homem, será possível então encontrarmos, no termo máximo, o principio de egoísmo que existe nos seres inferiores, e que é tão condenável no homem? E isto é possível? Mas, por que então o egoísmo humano é uma culpa? E por que ele existe e que significa e quer? E, no princípio centralizador unitário do universo em Deus encontraremos então o egoísmo máximo?
É um fato que, sem egocentrismo, desde os sistemas planetários aos organismos celulares e sociais, não se mantém compacta nenhuma unidade. Ele é, pois, necessário a todo ser. Egocentrismo não é exatamente egoísmo. Este possui mais um sentido de centralização com vantagem individual, com pendor separatista e exclusivista, um sentido de usurpação em detrimento de outros ou necessitados ou com direito. O egocentrismo possui ao invés, apenas um sentido de centralização destituído de senso separatista e exclusivista, sem o objetivo de usurpar nada a outrem pelo contrário, com vantagem de conservação de um organismo global que é necessário e útil a todos os elementos componentes. O Estado, como um chefe de família, pode ser utilmente egocêntrico sem ser egoísta Se todo ser, para existir, deve dizer: "eu" - o egocentrismo é uma necessidade de existência e, por isso, não pode haver culpa em se repetir os princípios do ser, expressos no sistema do universo. É também, segundo a Lei, que cada fragmento conserve interiormente a natureza do esquema consoante o qual o Todo-uno é construído.

Eis como se opera a progressão da abertura da concha do egoísmo no altruísmo, fim da evolução que consiste exatamente na confraternização, a qual, unificando os fragmentos do Uno, reconduz os seres à unidade no centro - Deus. O egoísmo poderia então denominar-se egocentrismo involuído, fechado e limitado em si mesmo, enquanto o altruísmo seria egocentrismo evoluído, aberto e expandido no Todo. Efetivamente, o primeiro é separatista, desagregador centrífugo; o segundo é unitário, centrípeto. O primeiro se afasta de Deus e o segundo se avizinha de Deus.
O egoísmo historicamente se explica. Resultado da fragmentação do Uno em tantos outros “eu” menores, separados e separatistas como veremos, é qualidade do ser involuído, necessário a sua existência, pois que no nível em que se encontra, necessita revestir esta forma de personalidade separada egoisticamente, em guerra com todos na ignorância da superior fase orgânica, que poderá irmaná-lo aos semelhantes em unidades maiores. Esse egocentrismo, biologicamente justificável, só o é, todavia, para o passado mas se tentar prolongar-se no futuro, tornar-se-á cada vez mais condenável como egoísmo separatista, porque a evolução leva a humanidade a um mais vasto egocentrismo coletivo. É assim que o egocentrismo separatista, sendo uma forma biologicamente de uma utilidade de superada, não poderá reaparecer senão sob o aspecto cada vez mais retrógrado e anti-vital. Tendo cada vez menos razão de existir na sua forma exclusivista e agressiva, cada vez menos também será justificado, pois que deixou de ter função biológica.
Em Deus, o egocentrismo representa um egoísmo tão amplo, que abraça todas as criaturas, tudo o que existe, de modo a coincidir com o máximo altruísmo. E quanto mais o ser evolve, tanto mais o egocentrismo tende a se aproximar ao de Deus, que é o egocentrismo que todo ser sente, com respeito aos elementos componentes do próprio organismo, constituindo uma necessidade para mantê-los todos compactos em unidades em torno ao ''eu." central, alma do sistema. O egocentrismo de Deus é, pois, um egocentrismo perfeito, isto é, não constituído de um egoísmo separatista e exclusivista, como o dos seres inferiores, mas sim, feito de Amor, que reforça essa fundamental lei do ser, porque Deus é centro, não para sujeitar, mas para atrair, não para absorver, mas para irradiar, não para tomar, mas para dar.